Onde fui amarrar meu burrinho?
Por Christina
Desde criança sempre quis ser mãe. Sempre achei lindo mulher grávida,
enorme, barriguda, andando feito pato de pernas abertas. Sempre achei
que ser mãe era meu (único?) dom na vida. Na adolescência me vi um
tiquinho mais egoísta "filho? tá doido? não suporto criança chorando!",
mas logo a vida voltou ao normal e numa discussão com um (ex) namorado,
cheguei a conclusão de que esse é o único propósito da vida do ser
humano: procriar, parir, encher o mundo de herdeiro.
Abre parênteses:
Não, não acho que gerar e parir uma criança seja mais importante do
que criar uma criança. Tiro meu chapéu para os pais adotivos que criam
seus filhos muitíssimo bem. Muitos pais biológicos não chegam aos pés de
certos pais adotivos. Mas a questão aqui é que sempre fui louca pra ter
aquele barrigão gigante e andar feito uma pata.
Fecha parênteses.
O tempo passa, o tempo voa, o namorado muda, a pessoa muda de país e
volta a ser estudante aos 28 anos. Relógio biológico já em
funcionamento. Namorado gringo, diferenças culturais gritantes, que
tempinho bunda esse da Inglaterra, vamos morar juntos, vamos pra uma
casa melhor.
O plano era casar, comprar casa, ter filho, nesta ordem. Tinha o
sonho de ganhar na loteria, mas não depende da gente. Na vida real, o
que aconteceu foi que engravidei, depois casei mega barriguda (tipo um
mês antes de parir), ao mesmo tempo que compramos a casa. A mudança foi
feita entre o parto e o pós-parto. Lindo, tudo lindo. Gravidez
maravilhosa, a barriga cresceu no último mês e ficou enoooorme, o cabelo
ficou brilhoso, o humor nunca esteve tão bom, dormia o final de semana
inteiro, conseguia dormir de bruços (isso, de barriga pra baixo, como eu
gosto!), a vida era a linda e eu amei aquele estado - cheguei a dizer
pros gays (todos tão lindos) lá do trabalho que topava ser barriga de
aluguel, de tanto que amei estar grávida. Amei o parto também, apesar
dos pesares. Saí querendo mais.
Mas depois da gravidez fantástica, do parto legal, o que acontece?
Cadê a barriga redonda e linda? Cadê os paparicos? Cadê os finais de
semana de sono profundo? Ninguem me preparou para o que estava por vir.
Parir foi mole - dói sim, mas foi ótimo; amamentar foi divino - é
difícil sim, mas uma experiência única; mas ter um serzinho dependente
de você, que não curte dormir como você curte, que não vem com manual de
instruções e que não tem botão liga-desliga (como assim, produção?!?!).
E quando você nao tem família perto pra dar uma força, pra segurar a
onda por duas horinhas enquanto você dorme? E quando a família vem de
longe e fica hospedada na sua casa, 24 horas por dia, 7 dias na semana
(7 não, 14, às vezes 30!)? E quando a família que vem para o nascimento e
as primeiras semanas de vida da sua filha não é a sua, não fala a sua
língua e quer dar o primeiro banho (e todos os subsequentes), trocar as
fraldas, etc? E quando - prestem muita atenção agora - seus hormônios,
que foram tão legais com você durante a gravidez, te sacaneiam feio no
pós-parto e você acaba em depressão e tomando anti-depressivo?
Resumo da ópera: ser mãe não é o mar de rosas que eu sonhava que
seria - é, de longe, uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida,
mais imprevisíveis, mais cansativas e emocionalmente desgastantes. Já
passei por muitas coisas na vida mas essa é a que mais me sugou, me
consumiu. Educar uma criança é tarefa muito séria e complexa. Vai
ficando mais e mais difícil. Tem todas as doenças, os dentes que nascem e
trazem diarréia, febre e muita dor juntos, a fase dos terrible twos
(que pode durar até 3 anos), a descoberta e o vício do chocolate, e por
aí vai. E olha que não sou nem uma expert no assunto; só tenho uma
filha e ela só tem 2 anos.
Estou arrependida? Está maluca?! Nunca! Faria tudo de novo, mil
vezes. Minha filha é linda demais, gostosa demais, feliz demais. Olho
pra ela e tenho a certeza de que sou uma ótima mae: ela é saudável,
faladeira, esperta, feliz - tão feliz. O trabalho compensa. Posso estar
exausta, mal humorada, com raiva do mundo, mas toda santa noite, pelo
menos uma vez, vou no quarto dela admirá-la no sono, beijar o pezinho
descoberto, cheirar a cabecinha, olhar cada detalhe do rostinho
bochechudo dela.
Mas (sempre tem um "mas", né?), se antes eu achava que eram doidos os
casais que optavam por não ter filhos, hoje em dia entendo
perfeitamente a opção, e apóio a decisão.
Acho que, às vezes, eu queria era ter um clone - um com filho e outro sem. Pra viver o melhor dos dois mundos.
Christina
é mãe de uma, queria ter quatro filhos mas agora não sabe se terá mais
que dois. Nas horas vagas, também é esposa, trabalha expediente
integral, é escrava do lar e escreve bobagens em inglês aqui e em português aqui.
Fonte: http://minhamaequedisse.com/
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